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LIMNOLOGIA PARA A CRIAÇÃO DE PEIXES



Limnologia para a criação de peixes



HEITOR FROSSARD & MAURO CAETANO FILHO

Introdução

A água é de importância fundamental para a piscicultura. Tanto em quantidade quanto em relação sua qualidade. Entretanto é um dos itens mais negligenciados pêlos piscicultores. Talvez isto ocorra porque o produtor, acostumado com outras criações, tenha certa dificuldade em pensar em coisas como alcalinidade, concentrações de oxigênio e de amônia.
É ai que esta o maior problema da criação de peixes, o ambiente em que eles vivem é completamente diferente do nosso e, sendo assim, sua criação é pouco intuitiva.
A ciência que estuda este ambiente e os corpos de águas continentais chama-se limnologia que em grego quer dizer estudo dos lagos. A limnologia estuda o ambiente aquático, e as relações entre os organismos e o ambiente.
Existe uma quantidade muito grande de variáveis interferindo direta ou indiretamente, na saúde, na sobrevivência e no crescimento dos peixes, mas na prática, podemos concentrar nossa atenção em umas poucas que ocupam pontos chave, e por isto são chamadas limitantes ou controladoras.
As principais variáveis limnológicas limitantes ao crescimento dos peixes e a manutenção de condições favoráveis à piscicultura são:
- temperatura e estratificação térmica
- oxigênio
- pH e alcalinidade
- amônia
- nitrito
É importante frisar que dado ao grande número de espécies de peixes criados, bem como a quantidade de maneiras disponíveis para criá-los, não é possível estabelecer um padrão com os limites máximos e mínimos ótimos das variáveis, que são importantes para piscicultura. Assim, os valores dados a seguir são médios para as principais espécies criadas de maneira semi intensiva.
Piscicultura semi intensiva
Existem vários graus de intensificação de uma criação de peixes.
Naquele em que a intensificação é mínima, é chamado de extensivo, é feita apenas a introdução de peixes da espécie que se pretende produzir no ambiente. Este geralmente já existe na propriedade e contém outros peixes indesejáveis, seja por se alimentarem da espécie que estamos introduzindo ou por competirem com ela pelo alimento disponível.
Neste tipo de criação não é feito nenhum tipo de controle ou aplicação de insumos. Portanto a produção de peixes estará limitada pela produção de alimento natural do ambiente. Neste caso a primeira limitação ao crescimento será a disponibilidade de alimento.
Assim, para aumentar a produção de peixes devemos aumentar a produção do alimento natural. Isto é feito através da calagem e da adubação. Quando não há aumento na produção de alimento natural, deve ser fornecido alimento externo aos peixes, se quisermos aumentar ainda mais sua produção.
Com o aumento da produção do viveiro também ocorre um aumento na quantidade de organismos consumindo oxigênio e, consequentemente, uma queda na disponibilidade de oxigênio para os peixes. Este é o segundo fator limitante.
Resolvemos este problema renovando parcialmente a água do viveiro ou instalando um aerador.


Figura 1. Aeradores de pás para melhorar o oxigênio da água, necessidade 1,5 cv para 5.000 tilápias na engorda.

Este é o sistema de cultivo chamado semi intensivo. Nele pretendemos obter uma boa produção de peixes através do alimento produzido naturalmente no viveiro mais um alimento externo, que geralmente é fornecido na forma de ração.
O problema deste sistema é que a decomposição da matéria orgânica resultante da adubação e do arraçoamento reduz o oxigênio disponível aos peixes além de produzir produtos tóxicos como a amônia e nitrito. Desta forma, mesmo com alimento abundante, a produção de peixes estará limitada pela má condição do ambiente.
A seguir tentaremos entender como administrar este problema.

Temperatura e estratificação térmica

Sem dúvida a temperatura é uma das variáveis ambientais que mais influencia o desenvolvimento dos peixes. Isto ocorre porque os peixes não regulam a temperatura do próprio corpo, consequentemente seu metabolismo é dependente da temperatura do meio, sendo maior em temperaturas mais elevadas. A temperatura é importante porque regula o apetite dos peixes, que diminui quando esta baixa, devido a queda no metabolismo.
A temperatura é importante para caracterizar a dinâmica da comunidade aquática, pois, em animais pecilotérmicos, as temperaturas extremas tendem a prejudicar quando são baixas, pelo efeito narcótico que atua restringindo seu desempenho; e quando são elevadas causam excessiva demanda de O2 para manutenção do organismo, podendo causar a mortalidade dos peixes.
O desequilíbrio entre o metabolismo de diferentes órgãos dos peixes também é considerado uma das principais causas da morte pelas altas temperaturas.
Como já foi dito a temperatura influencia praticamente todos os processos em um viveiro, incluindo os biológicos como a respiração dos organismos e os abióticos como solubilidade do oxigênio na água.
Entretanto, como a temperatura é uma variável independente neste tipo de sistema, é muito difícil, se não impossível, manejá-la. Sendo assim é de extrema importância que a espécie de peixe que pretendemos criar seja compatível com o clima da região.
As principais espécies criadas no Brasil necessitam de temperaturas entre 20 e 30°C, apresentando melhor crescimento quando a temperatura for maior que 25°C. Entretanto, as criações de trutas são feitas em temperaturas abaixo de 18 graus.
A ação da temperatura sobre os organismos pode ser quantificada, de maneira aproximada, pela regra de Van T’ Hoff. Segundo esta regra a elevação da temperatura em 10 °C pode duplicar ou triplicar a velocidade das reações.
Porém não são apenas os efeitos internos causados pelas variações na temperatura que influem no desenvolvimento dos peixes; há de se considerar os externos, como a ação sobre o desenvolvimento de outras comunidades importantes para a alimentação dos peixes, ou como veremos a seguir para a dinâmica de todo o viveiro.
Do ponto de vista físico a temperatura é uma manifestação da quantidade de energia que chega a superfície dos viveiros principalmente na forma de luz solar.
Ao penetrar na água parte da energia desta luz é absorvida pelas moléculas de água na forma de calor.
Como a absorção da luz ocorre de forma diferenciada, ou seja, a maior parte da absorção ocorre logo nas camadas superficiais da coluna d'água, e os comprimentos de onda mais absorvidos são justamente os mais longos, na faixa do vermelho, há um acúmulo de calor na camada superficial da coluna d'água.
Isto provoca uma diminuição na densidade da água nesta região, de forma que ela não se mistura com o resto da coluna d'água, num processo chamado de estratificação térmica.
Devido a esta estratificação o viveiro fica dividido em duas camadas: uma superior onde se concentram os processos de produção primária e de oxigênio e outra inferior onde ocorre a maior parte da decomposição de matéria orgânica, com produção de compostos tóxicos e consumo de oxigênio.
Com a redução da radiação solar ao entardecer a camada superior do viveiro perde calor para a atmosfera, assim a coluna d'água fica homogênea.
Caso o fundo do viveiro contenha muita matéria orgânica a qualidade da água se deteriorará de tal forma durante o período de estratificação que comprometerá toda a coluna d'água quando esta se desestratificar.

Oxigênio dissolvido

Para a grande maioria dos seres vivos, o oxigênio é tão vital quanto os alimentos, pois, para eles, a obtenção de energia está diretamente relacionada com a disponibilidade deste gás. Assim, o conhecimento de seu comportamento em viveiros é muito importante para permitir o bom desenvolvimento dos peixes.
A solubilidade do oxigênio na água é influenciada por sua pressão parcial na atmosfera (quanto maior a pressão maior a solubilidade), pela concentração das demais substâncias que se encontram dissolvidas na água e pela temperatura desta (quanto maior, menor é a solubilidade). Na prática isto resulta em uma disponibilidade de oxigênio trinta vezes menor na água em relação ao ambiente aéreo.
A principal fonte de oxigênio em um viveiro vem da atmosfera e a produção pelas algas (fitoplâncton) através da fotossíntese, enquanto as perdas ocorrem devido à decomposição da matéria orgânica, respiração e oxidação de íons metálicos.
As principais causas da redução de oxigênio em um viveiro são a decomposição de matéria orgânica e a respiração. Quando as taxas de oxidação são maiores que as de suprimento de oxigênio, ocorre um declínio nas concentrações de O2 disponíveis aos peixes.
A difusão do oxigênio através da coluna d'água é extremamente lenta, por isso a ação do vento é muito importante. Com o vento as camadas superiores da coluna d'água, mais ricas em oxigênio, são empurradas para as margens, e daí para o fundo do viveiro.
Este transporte de massas de água leva oxigênio para as camadas profundas do viveiro.
Porém isto só é possível caso não haja estratificação. Como já foi visto a estratificação da coluna d'água não permite que as camadas da superfície cheguem ao fundo.
Durante uma estratificação o fundo do viveiro fica isolado e caso haja um grande consumo de oxigênio, seja pela respiração de micro-organismos ou pela decomposição da matéria orgânica, apresentará níveis de oxigênio tão baixos que poderão comprometer a sobrevivência dos peixes.
Além da baixa disponibilidade de oxigênio para a respiração estes períodos de anóxia também são prejudiciais porque a decomposição anaeróbica da matéria orgânica libera compostos altamente tóxicos, como o gás sulfídrico (H2S) e o metano (CH4).
Durante o período de estratificação os peixes se concentram nas camadas superiores da coluna d'água que permanecem oxigenadas, entretanto com a desestratifícação toda a coluna d'água apresentará baixos valores de oxigênio forçando os peixes a buscarem oxigênio nos milímetros mais superficiais da coluna d'água, o que chamamos de boquejar.
     
É interessante ressaltar que os peixes contribuem muito pouco no consumo de oxigênio de um viveiro, como pode ser visto na tabela abaixo.

Tabela l - Contribuição relativa para o consumo de oxigênio em um viveiro:
Respiração           Peixes                 5,3%
Zooplâncton       4,5%
Bentos                 0,2%
Bactérias             50,0%
Decomposição    Ração e fezes      32,0%
Fertilizantes       8,0%
Outro fator importante na redução da disponibilidade do O2 é o fato de sua solubilidade ser reduzida com o aumento da temperatura, pois, que ao mesmo tempo reduz a sua solubilidade, há também um aumento nas taxas metabólicas e, consequentemente, aumento no consumo de oxigênio.
Na transferência de oxigênio do ambiente aquático para os tecidos a tensão de O2 decresce gradativamente em direção ao meio celular, tendo como principais barreiras, as membranas branquiais, a própria circulação sanguínea e as membranas dos tecidos que estão recebendo o oxigênio. Desta forma quanto menor a concentração de oxigênio no meio aquático, menor será a quantidade de oxigênio disponível aos tecidos.
Os peixes podem apresentar diferentes respostas às variações ambientais de oxigênio. Os chamados de oxi-reguladores mantém suas taxas de consumo de oxigênio praticamente constante acima de uma tensão crítica, e abaixo desta, a respiração passa a ser dependente da concentração do O2 ambiental.
Já os oxi-conformistas reduzem a tomada de O2 de acordo com a diminuição das tensões externas de oxigênio.
Estudos sobre as adaptações dos peixes à hipóxia mostram um aumento na ventilação branquial o que proporciona um maior número de moléculas de oxigênio passando pelas brânquias e sendo levadas ao sistema circulatório dos peixes. Entretanto o custo energético da ventilação branquial dos peixes que já é bastante elevado, cerca de 10% enquanto em humanos fica em tomo de 2%, aumenta rapidamente com esta compensação podendo chegar a 70% com um incremento de apenas três vezes na ventilação. Este alto custo energético é devido à maior viscosidade (840 vezes) e densidade (60 vezes) da água em relação ao ar.
Na prática isto quer dizer que mesmo que os peixes não morram com os baixos níveis de oxigênio, eles estarão gastando a maior parte da energia que seria gasta para crescer, tentando manterem-se vivos.
Para evitar este tipo de problema:
- a quantidade de matéria orgânica que é adicionada a um viveiro, seja na forma de esterco ou de ração, deve ser limitada em cerca de 60 a 120g/m2 dia, dependendo da taxa de renovação da água do viveiro.
- suspender qualquer tipo de fertilização quando a temperatura estiver abaixo de 20°C.
- utilizar um disco de Secchi para controlar a adubação. Quando a transparência for maior que 60-70 cm inicia-se a adubação, que deve ser interrompida quando a transparência for menor que 30-40 cm.
Em casos severos de anóxia em viveiros é recomendada a suspensão do fornecimento de alimentos, fazer o uso de aeradores ou a troca de parte da água do viveiro. Entretanto estes procedimentos são paliativos uma vez que somente a redução da quantidade de matéria orgânica no viveiro resolverá o problema.

pH e alcalinidade

O pH é uma das variáveis ambientais de maior importância no desenvolvimento dos peixes, uma vez que influencia os mais diversos processos químicos que ocorrem nos peixes e no ambiente- Por outro lado também é uma das variáveis de mais difícil análise e interpretação, justamente por estar envolvida em tantos processos distintos.
Apenas a título de recordação, cabe definir o pH como o logaritmo negativo da concentração do íon H+.
- LOG [H+]
Ou seja, quanto maior a concentração de H+ na água menor é o valor do pH e a água passa a ter um caráter ácido. Também vale lembrar que a notação correia é pH.
Não existe uma faixa claramente definida dentro da qual os peixes estejam fora de perigo e fora da qual estejam condenados, mas sim uma deterioração gradual conforme o pH se afasta de um valor normal ou ótimo.
Como pode ser visto na tabela abaixo, a faixa de pH em que os peixes se desenvolvem melhor varia de 6,5 a 9,0. Sendo ideal a faixa de 6,9 a 7,2.
Tabela 2 - Efeito de diversas faixas de pH sobre os peixes. (Alabaster e Lioyd, 1982).
                Faixa
Efeito
3,0 - 3,5
É improvável que qualquer peixe possa sobreviver por mais que umas poucas horas nesta faixa, embora algumas plantas e invertebrados possam ser encontrados em valores de pH menores que estes.
3,5 - 4,0
Há evidências de que alguns peixes possam sobreviver nesta faixa, provavelmente após um período de aclimatação para um nível ligeiramente superior, não letal.
4,0 - 4,5
Provavelmente é nocivo para vários peixes, incluindo a carpa comum que não tenham sido previamente aclimatados para valores baixos de pH. Embora a resistência a esta faixa de pH aumente com o tamanho e com a idade dos peixes, há poucas evidencias de que seja possível a procriação.
4,5 - 5,0
Provavelmente é nocivo para peixes adultos, particularmente em águas moles, contendo baixas concentrações de cálcio, sódio e cloretos.
5,0 - 6,0
Não parece ser danoso a qualquer espécie de peixe a não ser em concentrações de CO2-livre maior que 20mg/L, ou em águas contendo sais de ferro, que são facilmente precipitados como hidróxido de ferro.
6,0 - 6,5
Aparentemente não é nocivo para os peixes, exceto se a concentração de CO2 presente for maior que lOOmg/L.
6,5 - 9,0
Não é nocivo para peixes, embora a toxidez de outras substâncias possa ser afetada pela variação do pH dentro desta faixa.
9,0 - 9,5
Aparentemente é danoso para alguns peixes quando expostos por um longo período de tempo.
9,5 - 10,0
É prejudicial ao desenvolvimento de algumas espécies.
10,0 - 11,0
Pode ser suportado por curtos períodos.
11,0 - 11,5
Letal para todos os peixes por período indeterminado.
Além de manter o pH da água dentro desta faixa também é importante que ele não varie muito num curto intervalo de tempo, pois, apesar dos peixes possuírem certa capacidade de adaptação, esta só ocorre de maneira progressiva e à custa de energia, prejudicando seu crescimento.
O pH em corpos de água doce está fortemente ligado às quantidades de carbonatos, bicarbonatos e hidroxilas do meio.


Estas diferentes formas de carbono inorgânico se relacionam e formam um sistema tampão, como descrito abaixo:
H2O + CO2 ↔ H2CO3 ↔ H+ + HCO3- ↔ 2H+ + CO3-
Quando fazemos uma calagem procuramos aumentar a quantidade de carbonatos no sistema, de maneira que deslocamos o equilíbrio para a esquerda forçando um aumento no pH.
Além de ajustar o pH a calagem propicia um aumento na reserva alcalina do sistema, ou seja, o carbonato que não foi dissociado num primeiro instante precipita e permanece no fundo do viveiro ajudando a manter o pH estável.
Esta capacidade de neutralizar os ácidos é chamada de alcalinidade, funcionando como um tampão que mantem estável o pH da água . A alcalinidade representa a disponibilidade de bases capazes de fazer trocas catiônicas. É medida em miligramas por litro de CaCO3.
Para vermos como o sistema carbonato-bicarbonato atua iremos analisar a variação diária do pH, que ocorre naturalmente em um viveiro muito produtivo.
Acompanhando o comportamento do pH desde as primeiras horas da manhã notaremos uma elevação do mesmo até o final da tarde. Isto ocorre porque com o aumento da radiação solar que chega à superfície do viveiro após o amanhecer ocorre um aumento na atividade fotossintética das algas, e conseqüentemente um aumento na concentração de O2 e queda na concentração de CO2, como mostram a equação abaixo.
6 H2O + 6 CO2 675 KCal ↔ C6H12O6 + 6 CO2
A queda no CO2 irá atuar sobre o equilíbrio do sistema tampão deslocando-o para a esquerda, roubando íons H+ do meio e elevando o pH.
Com o anoitecer, a diminuição da radiação solar e do consumo de CO2 pela fotossíntese faz com que haja um aumento na sua concentração.
Assim o equilíbrio é deslocado para a direita e o pH abaixa.
Esta flutuação dos valores do pH é suficiente para debilitar os peixes causando uma queda no crescimento.
Entretanto, caso o ambiente tenha uma reserva alcalina adequada, ou seja, caso haja no ambiente quantidade suficiente de carbonato e bicarbonato, os íons H+ que estariam livres no ambiente causando as variações do pH reagiriam com o carbonato produzindo bicarbonato, e não alterariam o pH.
Sabe-se muito pouco sobre o efeito de águas alcalinas sobre os peixes e isto pode refletir uma menor importância do problema. Dados de laboratório mostram que valores de pH entre 9 e 10 podem ser perigosos para algumas espécies de peixes e para as demais acima de 11. Quando os altos valores de pH são causados por uma vigorosa atividade fotossintética das plantas aquáticas, acompanhadas por altas temperaturas e supersaturação de gases dissolvidos, justamente estes outros fatores podem contribuir para a maior ou menor extensão da mortalidade dos peixes, tomando difícil correlacionar mortalidade com os dados isolados de pH obtidos em laboratório.
Em peixes mantidos sobre valores baixos de pH, foi observado aumento na pCO2, queda no pH do sangue arterial e aumento na taxa de ventilação branquial. Em águas com baixos valores de pH os peixes apresentam uma maior produção de muco em suas brânquias, podendo ocorrer morte por sufocação.
Também foi observada queda nas concentrações de sódio no sangue dos peixes, indicando uma redução na capacidade de osmorregulação. Porém exceto em valores extremos, quando houve degradação do epitélio branquial, a normalização do pH permitiu total recuperação dos peixes, mostrando que não houve dano permanente.
O pH, como já foi dito, pode ser controlado pela adição de calcários aos viveiros.
São utilizados basicamente quatro compostos:
- Óxido de cálcio, ou cal virgem - CaO
- Hidróxido de cálcio, ou cal hidratada - Ca(OH)2
- Calcário dolomítico - CaMg(CO3)2
- Calcário calcítico - CaCO3
A cal virgem e a hidratada são mais indicadas para fazer expurgo nos viveiros e são utilizadas em proporções que variam de l00g a 500g/m2, podendo chegar a doses muito maiores no caso de graves problemas com doenças ou parasitas.
Para a calagem propriamente dita, são utilizados os outros dois compostos, sendo que o calcário dolomitico é o mais indicado, uma vez que por possuir magnésio em sua formula contribui com este nutriente para a formação da clorofila. A dosagem varia de 100 a 300g/m2.
Deve-se acompanhar a alcalinidade da água dos viveiros, procurando manter entre 30 e 130 mg/L (CaCO3). A concentração ideal está em torno de 50 mg/L.

Amônia

A amônia está presente em todos os viveiros como um produto natural da excreção dos peixes e da degradação biológica da proteína.
Devemos ficar atentos para evitar problemas com a confusão quanto à terminologia utilizada para descrever as concentrações das diversas formas da amônia, utilizaremos os seguintes termos:
- Para NH3, amônia não ionizada ou simplesmente amônia
- Para NH4+, amônio ou íon amônio
- A combinação das duas formas (NH3 + NH4+) será chamada de amônia total. Esta é a forma detectada pêlos principais métodos de análise empregados.
Os efeitos prejudiciais da amônia estão relacionados com os valores do pH e da temperatura. Isto se dá devido ao fato de apenas a fração não ionizada da amônia ser tóxica, e a concentração desta fração aumentar com a elevação da temperatura e do pH.
Os peixes diferem em relação à tolerância a amônia dependendo da espécie, entretanto esta diferença é mais significante para curtos períodos de exposição e não é suficiente para invalidar um único critério para as diferentes espécies.
Assim, 0,2mg/L de amônia, ou seja, amônia não ionizada pode ser considerada a menor concentração letal. Entretanto efeitos adversos já são causados por uma longa exposição a concentrações de 0,025mg/L de amônia.
Embora concentrações abaixo de 0,15mg NH3/L não causem um número significante de mortes ainda podem causar efeitos fisiológicos e histológicos adversos.
As principais manifestações da intoxicação por amônia são danos no epitélio branquial, danos nas nadadeiras, queda no número de eritrócitos.
O mecanismo de ação da amônia pode ser resumido do seguinte modo: a presença excessiva de NH3 altera o metabolismo celular devido ao aumento da alcalinidade; o excesso de amônia nas mitocôndrias causa reversão da enzima glutamato desidrogenase alterando o metabolismo oxidativo do ácido tri-carboxílico, resultando na diminuição das concentrações celulares de ATP e com isso a amônia inibe o transporte ativo dos íons sódio, podendo afetar o transporte dos íons cloreto, bicarbonato e a reabsorção de água em epitélios transportadores dos peixes e pelo aumento de permeabilidade.  Havendo um grande aumento na absorção de água.
Em estudos de longa exposição foram observados danos em vários tecidos, rins e fígado, aparentemente relacionados com a ruptura de vasos sanguíneos.
Foi encontrada a evidência de acumulação de amônia no sangue de peixes expostos a soluções de amônia.
É comum observar casos de intoxicação por amônia em criações intensivas, principalmente com recirculação de água. Mas em viveiros de piscicultura semi intensiva isto é mais raro, pois em um viveiro estabilizado a amônia é absorvida pelo fito plâncton ou oxidada a nitrato pelas bactérias.
Em piscicultura a origem da amônia esta associada principalmente a dois processos naturais: a excreção dos peixes e a decomposição da matéria orgânica.
Assim a melhor maneira de lidar com a amônia é manter seu nível baixo, o que se consegue evitando concentrações elevadas de peixes e principalmente evitando a introdução de matéria orgânica em excesso, através das adubações ou na forma de ração e mantendo o ambiente oxigenado.
Também é importante não abusar das calagens uma vez que, como já foram expostos altos valores de pH aumentam a concentração de amônia não ionizada, que é a forma tóxica.
A retirada da amônia da água é um processo complicado, uma vez que é feita através de bactérias, sendo viável apenas em criações intensivas. Para controlar os níveis de amônia em viveiros é necessário um acompanhamento periódico de sua concentração, bem como critério na adubação e arraçoamento. Em casos de concentrações extremas deve-se renovar a água do viveiro.
Nitrito
O nitrito é a forma ionizada do ácido nitroso (HNO2), a nitrificação é benéfica para a aquicultura por reduzir as concentrações de amônia, no entanto, pode apresentar efeitos adversos na qualidade da água, por acidificar o meio e requerer grande quantidade de oxigênio para oxidar a amônia a nitrato. O efeito mais importante do nitrito em peixes refere-se à capacidade que este composto tem de oxidar a hemoglobina do sangue, convertendo-a em meta-hemoglobina (molécula incapaz de transportar o oxigênio), provocando assim, a morte dos organismos por asfixia. A amônia molecular e o nitrito são as principais substâncias tóxicas nos sistemas de criação de peixes. A toxicidade do nitrito está relacionada com a concentração de cloreto, provavelmente porque as células do epitélio branquial que possui a bomba de cloro distinguem entre nitrito e o cloreto, e inibe a absorção do nitrito e absorve o Cl. Coho salmon exposto a 9mg/L de nitrito e uma concentração de 20mg/L de cloreto, teve uma conversão de 64% de hemo a meta-hemoglobina, com um resultado de 50% na mortalidade.
A composição da dieta é um aspecto importante não só para o sucesso da prática da aquicultura e para assegurar altas taxas de peso e crescimento, mas também alimentar os animais, deixando-os preparados para enfrentar o “stress” dos níveis de amônia e nitrito no ambiente de criação.



Bibliografias
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