Limnologia para a criação de peixes
Introdução
A água é de importância fundamental para a
piscicultura. Tanto em quantidade quanto em relação sua qualidade. Entretanto é
um dos itens mais negligenciados pêlos piscicultores. Talvez isto ocorra porque
o produtor, acostumado com outras criações, tenha certa dificuldade em pensar
em coisas como alcalinidade, concentrações de oxigênio e de amônia.
É ai que esta o maior problema da criação de
peixes, o ambiente em que eles vivem é completamente diferente do nosso e,
sendo assim, sua criação é pouco intuitiva.
A ciência que estuda este ambiente e os corpos de
águas continentais chama-se limnologia que em grego quer dizer estudo dos
lagos. A limnologia estuda o ambiente aquático, e as relações entre os
organismos e o ambiente.
Existe uma quantidade muito grande de variáveis
interferindo direta ou indiretamente, na saúde, na sobrevivência e no
crescimento dos peixes, mas na prática, podemos concentrar nossa atenção em
umas poucas que ocupam pontos chave, e por isto são chamadas limitantes ou
controladoras.
As principais variáveis limnológicas limitantes ao
crescimento dos peixes e a manutenção de condições favoráveis à piscicultura
são:
- temperatura e estratificação térmica
- oxigênio
- pH e alcalinidade
- amônia
- nitrito
É importante frisar que dado ao grande número de
espécies de peixes criados, bem como a quantidade de maneiras disponíveis para criá-los,
não é possível estabelecer um padrão com os limites máximos e mínimos ótimos
das variáveis, que são importantes para piscicultura. Assim, os valores dados a
seguir são médios para as principais espécies criadas de maneira semi intensiva.
Piscicultura semi intensiva
Existem vários graus de intensificação de uma
criação de peixes.
Naquele em que a intensificação é mínima, é chamado
de extensivo, é feita apenas a introdução de peixes da espécie que se pretende
produzir no ambiente. Este geralmente já existe na propriedade e contém outros
peixes indesejáveis, seja por se alimentarem da espécie que estamos
introduzindo ou por competirem com ela pelo alimento disponível.
Neste tipo de criação não é feito nenhum tipo de
controle ou aplicação de insumos. Portanto a produção de peixes estará limitada
pela produção de alimento natural do ambiente. Neste caso a primeira limitação
ao crescimento será a disponibilidade de alimento.
Assim, para aumentar a produção de peixes devemos
aumentar a produção do alimento natural. Isto é feito através da calagem e da adubação.
Quando não há aumento na produção de alimento natural, deve ser fornecido
alimento externo aos peixes, se quisermos aumentar ainda mais sua produção.
Com o aumento da produção do viveiro também ocorre
um aumento na quantidade de organismos consumindo oxigênio e, consequentemente,
uma queda na disponibilidade de oxigênio para os peixes. Este é o segundo fator
limitante.
Resolvemos este problema renovando parcialmente a
água do viveiro ou instalando um aerador.
Figura 1. Aeradores de pás para melhorar o oxigênio da água, necessidade 1,5 cv para 5.000 tilápias na engorda.
Este é o sistema de cultivo chamado semi intensivo.
Nele pretendemos obter uma boa produção de peixes através do alimento produzido
naturalmente no viveiro mais um alimento externo, que geralmente é fornecido na
forma de ração.
O problema deste sistema é que a decomposição da
matéria orgânica resultante da adubação e do arraçoamento reduz o oxigênio
disponível aos peixes além de produzir produtos tóxicos como a amônia e nitrito.
Desta forma, mesmo com alimento abundante, a produção de peixes estará limitada
pela má condição do ambiente.
A seguir tentaremos entender como administrar este
problema.
Temperatura e estratificação térmica
Sem dúvida a temperatura é uma das variáveis
ambientais que mais influencia o desenvolvimento dos peixes. Isto ocorre porque
os peixes não regulam a temperatura do próprio corpo, consequentemente seu
metabolismo é dependente da temperatura do meio, sendo maior em temperaturas
mais elevadas. A temperatura é importante porque regula o apetite dos peixes,
que diminui quando esta baixa, devido a queda no metabolismo.
A temperatura é importante para caracterizar a
dinâmica da comunidade aquática, pois, em animais pecilotérmicos, as
temperaturas extremas tendem a prejudicar quando são baixas, pelo efeito
narcótico que atua restringindo seu desempenho; e quando são elevadas causam
excessiva demanda de O2 para manutenção do organismo, podendo causar
a mortalidade dos peixes.
O desequilíbrio entre o metabolismo de diferentes
órgãos dos peixes também é considerado uma das principais causas da morte pelas
altas temperaturas.
Como já foi dito a temperatura influencia
praticamente todos os processos em um viveiro, incluindo os biológicos como a
respiração dos organismos e os abióticos como solubilidade do oxigênio na água.
Entretanto, como a temperatura é uma variável
independente neste tipo de sistema, é muito difícil, se não impossível,
manejá-la. Sendo assim é de extrema importância que a espécie de peixe que
pretendemos criar seja compatível com o clima da região.
As principais espécies criadas no Brasil necessitam
de temperaturas entre 20 e 30°C, apresentando melhor crescimento quando a
temperatura for maior que 25°C. Entretanto, as criações de trutas são feitas em
temperaturas abaixo de 18 graus.
A ação da temperatura sobre os organismos pode ser
quantificada, de maneira aproximada, pela regra de Van T’ Hoff. Segundo esta
regra a elevação da temperatura em 10 °C pode duplicar ou triplicar a
velocidade das reações.
Porém não são apenas os efeitos internos causados
pelas variações na temperatura que influem no desenvolvimento dos peixes; há de
se considerar os externos, como a ação sobre o desenvolvimento de outras
comunidades importantes para a alimentação dos peixes, ou como veremos a seguir
para a dinâmica de todo o viveiro.
Do ponto de vista físico a temperatura é uma
manifestação da quantidade de energia que chega a superfície dos viveiros
principalmente na forma de luz solar.
Ao penetrar na água parte da energia desta luz é
absorvida pelas moléculas de água na forma de calor.
Como a absorção da luz ocorre de forma
diferenciada, ou seja, a maior parte da absorção ocorre logo nas camadas
superficiais da coluna d'água, e os comprimentos de onda mais absorvidos são
justamente os mais longos, na faixa do vermelho, há um acúmulo de calor na camada
superficial da coluna d'água.
Isto provoca uma diminuição na densidade da água
nesta região, de forma que ela não se mistura com o resto da coluna d'água, num
processo chamado de estratificação térmica.
Devido a esta estratificação o viveiro fica
dividido em duas camadas: uma superior onde se concentram os processos de
produção primária e de oxigênio e outra inferior onde ocorre a maior parte da
decomposição de matéria orgânica, com produção de compostos tóxicos e consumo
de oxigênio.
Com a redução da radiação solar ao entardecer a
camada superior do viveiro perde calor para a atmosfera, assim a coluna d'água
fica homogênea.
Caso o fundo do viveiro contenha muita matéria
orgânica a qualidade da água se deteriorará de tal forma durante o período de
estratificação que comprometerá toda a coluna d'água quando esta se desestratificar.
Oxigênio dissolvido
Para a grande maioria dos seres vivos, o oxigênio é
tão vital quanto os alimentos, pois, para eles, a obtenção de energia está
diretamente relacionada com a disponibilidade deste gás. Assim, o conhecimento
de seu comportamento em viveiros é muito importante para permitir o bom
desenvolvimento dos peixes.
A solubilidade do oxigênio na água é influenciada
por sua pressão parcial na atmosfera (quanto maior a pressão maior a
solubilidade), pela concentração das demais substâncias que se encontram
dissolvidas na água e pela temperatura desta (quanto maior, menor é a
solubilidade). Na prática isto resulta em uma disponibilidade de oxigênio
trinta vezes menor na água em relação ao ambiente aéreo.
A principal fonte de oxigênio em um viveiro vem da
atmosfera e a produção pelas algas (fitoplâncton) através da fotossíntese,
enquanto as perdas ocorrem devido à decomposição da matéria orgânica,
respiração e oxidação de íons metálicos.
As principais causas da redução de oxigênio em um
viveiro são a decomposição de matéria orgânica e a respiração. Quando as taxas
de oxidação são maiores que as de suprimento de oxigênio, ocorre um declínio
nas concentrações de O2 disponíveis aos peixes.
A difusão do oxigênio através da coluna d'água é
extremamente lenta, por isso a ação do vento é muito importante. Com o vento as
camadas superiores da coluna d'água, mais ricas em oxigênio, são empurradas
para as margens, e daí para o fundo do viveiro.
Este transporte de massas de água leva oxigênio
para as camadas profundas do viveiro.
Porém isto só é possível caso não haja
estratificação. Como já foi visto a estratificação da coluna d'água não permite
que as camadas da superfície cheguem ao fundo.
Durante uma estratificação o fundo do viveiro fica
isolado e caso haja um grande consumo de oxigênio, seja pela respiração de
micro-organismos ou pela decomposição da matéria orgânica, apresentará níveis de
oxigênio tão baixos que poderão comprometer a sobrevivência dos peixes.
Além da baixa disponibilidade de oxigênio para a
respiração estes períodos de anóxia também são prejudiciais porque a
decomposição anaeróbica da matéria orgânica libera compostos altamente tóxicos,
como o gás sulfídrico (H2S) e o metano (CH4).
Durante o período de estratificação os peixes se
concentram nas camadas superiores da coluna d'água que permanecem oxigenadas,
entretanto com a desestratifícação toda a coluna d'água apresentará baixos
valores de oxigênio forçando os peixes a buscarem oxigênio nos milímetros mais
superficiais da coluna d'água, o que chamamos de boquejar.
É interessante ressaltar que os peixes contribuem
muito pouco no consumo de oxigênio de um viveiro, como pode ser visto na tabela
abaixo.
Tabela l - Contribuição relativa para o consumo de oxigênio
em um viveiro:
Respiração Peixes 5,3%
Zooplâncton 4,5%
Bentos 0,2%
Bactérias 50,0%
Decomposição Ração
e fezes 32,0%
Fertilizantes 8,0%
Outro fator importante na redução da
disponibilidade do O2 é o fato de sua solubilidade ser reduzida com
o aumento da temperatura, pois, que ao mesmo tempo reduz a sua solubilidade, há
também um aumento nas taxas metabólicas e, consequentemente, aumento no consumo
de oxigênio.
Na transferência de oxigênio do ambiente aquático
para os tecidos a tensão de O2 decresce gradativamente em direção ao
meio celular, tendo como principais barreiras, as membranas branquiais, a
própria circulação sanguínea e as membranas dos tecidos que estão recebendo o oxigênio.
Desta forma quanto menor a concentração de oxigênio no meio aquático, menor
será a quantidade de oxigênio disponível aos tecidos.
Os peixes podem apresentar diferentes respostas às
variações ambientais de oxigênio. Os chamados de oxi-reguladores mantém suas
taxas de consumo de oxigênio praticamente constante acima de uma tensão
crítica, e abaixo desta, a respiração passa a ser dependente da concentração do
O2 ambiental.
Já os oxi-conformistas reduzem a tomada de O2
de acordo com a diminuição das tensões externas de oxigênio.
Estudos sobre as adaptações dos peixes à hipóxia
mostram um aumento na ventilação branquial o que proporciona um maior número de
moléculas de oxigênio passando pelas brânquias e sendo levadas ao sistema
circulatório dos peixes. Entretanto o custo energético da ventilação branquial
dos peixes que já é bastante elevado, cerca de 10% enquanto em humanos fica em
tomo de 2%, aumenta rapidamente com esta compensação podendo chegar a 70% com
um incremento de apenas três vezes na ventilação. Este alto custo energético é devido
à maior viscosidade (840 vezes) e densidade (60 vezes) da água em relação ao
ar.
Na prática isto quer dizer que mesmo que os peixes
não morram com os baixos níveis de oxigênio, eles estarão gastando a maior
parte da energia que seria gasta para crescer, tentando manterem-se vivos.
Para evitar este tipo de problema:
- a quantidade de matéria orgânica que é adicionada
a um viveiro, seja na forma de esterco ou de ração, deve ser limitada em cerca
de 60 a 120g/m2 dia, dependendo da taxa de renovação da água do
viveiro.
- suspender qualquer tipo de fertilização quando a
temperatura estiver abaixo de 20°C.
- utilizar um disco de Secchi para controlar a adubação.
Quando a transparência for maior que 60-70 cm inicia-se a adubação, que deve
ser interrompida quando a transparência for menor que 30-40 cm.
Em casos severos de anóxia em viveiros é
recomendada a suspensão do fornecimento de alimentos, fazer o uso de aeradores
ou a troca de parte da água do viveiro. Entretanto estes procedimentos são
paliativos uma vez que somente a redução da quantidade de matéria orgânica no
viveiro resolverá o problema.
pH e alcalinidade
O pH é uma das variáveis ambientais de maior
importância no desenvolvimento dos peixes, uma vez que influencia os mais
diversos processos químicos que ocorrem nos peixes e no ambiente- Por outro
lado também é uma das variáveis de mais difícil análise e interpretação,
justamente por estar envolvida em tantos processos distintos.
Apenas a título de recordação, cabe definir o pH
como o logaritmo negativo da concentração do íon H+.
- LOG [H+]
Ou seja, quanto maior a concentração de H+
na água menor é o valor do pH e a água passa a ter um caráter ácido. Também
vale lembrar que a notação correia é pH.
Não existe uma faixa claramente definida dentro da
qual os peixes estejam fora de perigo e fora da qual estejam condenados, mas
sim uma deterioração gradual conforme o pH se afasta de um valor normal ou
ótimo.
Como pode ser visto na tabela abaixo, a faixa de pH
em que os peixes se desenvolvem melhor varia de 6,5 a 9,0. Sendo ideal a faixa
de 6,9 a 7,2.
Tabela 2 - Efeito de diversas faixas de pH sobre os
peixes. (Alabaster e Lioyd, 1982).
Faixa
|
Efeito
|
3,0 - 3,5
|
É improvável que qualquer peixe possa sobreviver por mais que umas
poucas horas nesta faixa, embora algumas plantas e invertebrados possam ser
encontrados em valores de pH menores que estes.
|
3,5 - 4,0
|
Há evidências
de que alguns peixes possam sobreviver nesta faixa, provavelmente após um
período de aclimatação para um nível ligeiramente superior, não letal.
|
4,0 - 4,5
|
Provavelmente é nocivo para vários peixes, incluindo a carpa comum que
não tenham sido previamente aclimatados para valores baixos de pH. Embora a
resistência a esta faixa de pH aumente com o tamanho e com a idade dos
peixes, há poucas evidencias de que seja possível a procriação.
|
4,5 - 5,0
|
Provavelmente é nocivo para peixes adultos, particularmente em águas
moles, contendo baixas concentrações de cálcio, sódio e cloretos.
|
5,0 - 6,0
|
Não parece ser danoso a qualquer espécie de peixe a não ser em
concentrações de CO2-livre maior que 20mg/L, ou em águas contendo
sais de ferro, que são facilmente precipitados como hidróxido de ferro.
|
6,0 - 6,5
|
Aparentemente não é nocivo para os peixes, exceto se a concentração de
CO2 presente for maior que lOOmg/L.
|
6,5 - 9,0
|
Não é nocivo para peixes, embora a toxidez de outras substâncias possa
ser afetada pela variação do pH dentro desta faixa.
|
9,0 - 9,5
|
Aparentemente é danoso para alguns peixes quando expostos por um longo
período de tempo.
|
9,5 - 10,0
|
É prejudicial ao desenvolvimento de algumas espécies.
|
10,0 - 11,0
|
Pode ser suportado por curtos períodos.
|
11,0 - 11,5
|
Letal para todos os peixes por período indeterminado.
|
Além de manter o pH da água dentro desta faixa
também é importante que ele não varie muito num curto intervalo de tempo, pois,
apesar dos peixes possuírem certa capacidade de adaptação, esta só ocorre de
maneira progressiva e à custa de energia, prejudicando seu crescimento.
O pH em corpos de água doce está fortemente ligado
às quantidades de carbonatos, bicarbonatos e hidroxilas do meio.
Estas diferentes formas de carbono inorgânico se
relacionam e formam um sistema tampão, como descrito abaixo:
H2O + CO2 ↔ H2CO3
↔ H+ + HCO3- ↔ 2H+ + CO3-
Quando fazemos uma calagem procuramos aumentar a
quantidade de carbonatos no sistema, de maneira que deslocamos o equilíbrio
para a esquerda forçando um aumento no pH.
Além de ajustar o pH a calagem propicia um aumento
na reserva alcalina do sistema, ou seja, o carbonato que não foi dissociado num
primeiro instante precipita e permanece no fundo do viveiro ajudando a manter o
pH estável.
Esta capacidade de neutralizar os ácidos é chamada
de alcalinidade, funcionando como um tampão que mantem estável o pH da água . A
alcalinidade representa a disponibilidade de bases capazes de fazer trocas
catiônicas. É medida em miligramas por litro de CaCO3.
Para vermos como o sistema carbonato-bicarbonato
atua iremos analisar a variação diária do pH, que ocorre naturalmente em um
viveiro muito produtivo.
Acompanhando o comportamento do pH desde as
primeiras horas da manhã notaremos uma elevação do mesmo até o final da tarde.
Isto ocorre porque com o aumento da radiação solar que chega à superfície do
viveiro após o amanhecer ocorre um aumento na atividade fotossintética das
algas, e conseqüentemente um aumento na concentração de O2 e queda
na concentração de CO2, como mostram a equação abaixo.
6 H2O + 6 CO2 675 KCal ↔ C6H12O6
+ 6 CO2
A queda no CO2 irá atuar sobre o
equilíbrio do sistema tampão deslocando-o para a esquerda, roubando íons H+
do meio e elevando o pH.
Com o anoitecer, a diminuição da radiação solar e
do consumo de CO2 pela fotossíntese faz com que haja um aumento na sua
concentração.
Assim o equilíbrio é deslocado para a direita e o
pH abaixa.
Esta flutuação dos valores do pH é suficiente para
debilitar os peixes causando uma queda no crescimento.
Entretanto, caso o ambiente tenha uma reserva
alcalina adequada, ou seja, caso haja no ambiente quantidade suficiente de
carbonato e bicarbonato, os íons H+ que estariam livres no ambiente
causando as variações do pH reagiriam com o carbonato produzindo bicarbonato, e
não alterariam o pH.
Sabe-se muito pouco sobre o efeito de águas
alcalinas sobre os peixes e isto pode refletir uma menor importância do
problema. Dados de laboratório mostram que valores de pH entre 9 e 10 podem ser
perigosos para algumas espécies de peixes e para as demais acima de 11. Quando
os altos valores de pH são causados por uma vigorosa atividade fotossintética
das plantas aquáticas, acompanhadas por altas temperaturas e supersaturação de
gases dissolvidos, justamente estes outros fatores podem contribuir para a
maior ou menor extensão da mortalidade dos peixes, tomando difícil
correlacionar mortalidade com os dados isolados de pH obtidos em laboratório.
Em peixes mantidos sobre valores baixos de pH, foi
observado aumento na pCO2, queda no pH do sangue arterial e aumento
na taxa de ventilação branquial. Em águas com baixos valores de pH os peixes
apresentam uma maior produção de muco em suas brânquias, podendo ocorrer morte
por sufocação.
Também foi observada queda nas concentrações de
sódio no sangue dos peixes, indicando uma redução na capacidade de
osmorregulação. Porém exceto em valores extremos, quando houve degradação do epitélio
branquial, a normalização do pH permitiu total recuperação dos peixes,
mostrando que não houve dano permanente.
O pH, como já foi dito, pode ser controlado pela
adição de calcários aos viveiros.
São utilizados basicamente quatro compostos:
- Óxido de cálcio, ou cal virgem - CaO
- Hidróxido de cálcio, ou cal hidratada - Ca(OH)2
- Calcário dolomítico - CaMg(CO3)2
- Calcário calcítico - CaCO3
A cal virgem e a hidratada são mais indicadas para
fazer expurgo nos viveiros e são utilizadas em proporções que variam de l00g a
500g/m2, podendo chegar a doses muito maiores no caso de graves
problemas com doenças ou parasitas.
Para a calagem propriamente dita, são utilizados os
outros dois compostos, sendo que o calcário dolomitico é o mais indicado, uma
vez que por possuir magnésio em sua formula contribui com este nutriente para a
formação da clorofila. A dosagem varia de 100 a 300g/m2.
Deve-se acompanhar a alcalinidade da água dos
viveiros, procurando manter entre 30 e 130 mg/L (CaCO3). A
concentração ideal está em torno de 50 mg/L.
Amônia
A amônia está presente em todos os viveiros como um
produto natural da excreção dos peixes e da degradação biológica da proteína.
Devemos ficar atentos para evitar problemas com a
confusão quanto à terminologia utilizada para descrever as concentrações das
diversas formas da amônia, utilizaremos os seguintes termos:
- Para NH3, amônia não ionizada ou simplesmente
amônia
- Para NH4+, amônio ou íon amônio
- A combinação das duas formas (NH3 + NH4+)
será chamada de amônia total. Esta é a forma detectada pêlos principais métodos
de análise empregados.
Os efeitos prejudiciais da amônia estão
relacionados com os valores do pH e da temperatura. Isto se dá devido ao fato
de apenas a fração não ionizada da amônia ser tóxica, e a concentração desta fração
aumentar com a elevação da temperatura e do pH.
Os peixes diferem em relação à tolerância a amônia
dependendo da espécie, entretanto esta diferença é mais significante para
curtos períodos de exposição e não é suficiente para invalidar um único
critério para as diferentes espécies.
Assim, 0,2mg/L de amônia, ou seja, amônia não
ionizada pode ser considerada a menor concentração letal. Entretanto efeitos
adversos já são causados por uma longa exposição a concentrações de 0,025mg/L
de amônia.
Embora concentrações abaixo de 0,15mg NH3/L
não causem um número significante de mortes ainda podem causar efeitos
fisiológicos e histológicos adversos.
As principais manifestações da intoxicação por amônia
são danos no epitélio branquial, danos nas nadadeiras, queda no número de eritrócitos.
O mecanismo de ação da amônia pode ser
resumido do seguinte modo: a presença excessiva de NH3 altera
o metabolismo celular devido ao aumento da alcalinidade; o excesso de amônia
nas mitocôndrias causa reversão da enzima glutamato desidrogenase alterando o
metabolismo oxidativo do ácido tri-carboxílico, resultando na diminuição das
concentrações celulares de ATP e com isso a amônia inibe o transporte ativo dos
íons sódio, podendo afetar o transporte dos íons cloreto, bicarbonato e a
reabsorção de água em epitélios transportadores dos peixes e pelo aumento de permeabilidade. Havendo um
grande aumento na absorção de água.
Em estudos de longa exposição foram observados
danos em vários tecidos, rins e fígado, aparentemente relacionados com a
ruptura de vasos sanguíneos.
Foi encontrada a evidência de acumulação de amônia
no sangue de peixes expostos a soluções de amônia.
É comum observar casos de intoxicação por amônia em
criações intensivas, principalmente com recirculação de água. Mas em viveiros
de piscicultura semi intensiva isto é mais raro, pois em um viveiro
estabilizado a amônia é absorvida pelo fito plâncton ou oxidada a nitrato pelas
bactérias.
Em piscicultura a origem da amônia esta associada
principalmente a dois processos naturais: a excreção dos peixes e a
decomposição da matéria orgânica.
Assim a melhor maneira de lidar com a amônia é manter
seu nível baixo, o que se consegue evitando concentrações elevadas de peixes e
principalmente evitando a introdução de matéria orgânica em excesso, através
das adubações ou na forma de ração e mantendo o ambiente oxigenado.
Também é importante não abusar das calagens uma vez
que, como já foram expostos altos valores de pH aumentam a concentração de amônia
não ionizada, que é a forma tóxica.
A retirada da amônia da água é um processo
complicado, uma vez que é feita através de bactérias, sendo viável apenas em criações
intensivas. Para controlar os níveis de amônia em viveiros é necessário um acompanhamento
periódico de sua concentração, bem como critério na adubação e arraçoamento. Em
casos de concentrações extremas deve-se renovar a água do viveiro.
Nitrito
O nitrito é a forma ionizada do ácido nitroso (HNO2),
a nitrificação é benéfica para a aquicultura por reduzir as concentrações de
amônia, no entanto, pode apresentar efeitos adversos na qualidade da água, por
acidificar o meio e requerer grande quantidade de oxigênio para oxidar a amônia
a nitrato. O efeito mais importante do nitrito em peixes refere-se à capacidade
que este composto tem de oxidar a hemoglobina do sangue, convertendo-a em
meta-hemoglobina (molécula incapaz de transportar o oxigênio), provocando
assim, a morte dos organismos por asfixia. A amônia molecular e o nitrito são
as principais substâncias tóxicas nos sistemas de criação de peixes. A
toxicidade do nitrito está relacionada com a concentração de cloreto,
provavelmente porque as células do epitélio branquial que possui a bomba de
cloro distinguem entre nitrito e o cloreto, e inibe a absorção do nitrito e
absorve o Cl. Coho salmon exposto a
9mg/L de nitrito e uma concentração de 20mg/L de cloreto, teve uma conversão de
64% de hemo a meta-hemoglobina, com um resultado de 50% na mortalidade.
A composição da dieta é um aspecto
importante não só para o sucesso da prática da aquicultura e para assegurar
altas taxas de peso e crescimento, mas também alimentar os animais, deixando-os
preparados para enfrentar o “stress” dos níveis de amônia e nitrito no ambiente
de criação.
Bibliografias
ALABASTER, J. S., LLOYD, R. Water quality criten
for freshwater fish 2. ed. London : Butterworth Science, 1982. 360 p.
BOYD, C. E. Water quality in pond fish culture.
New York : Elsevier,1984. 317 p.
BOYD, C. E.; TUCKER, G. S. Pond aquaculture
water quality management. Norwell : Kluwer, 1998. 700p.
BRUNE, D. E.; TOMASSO J. R. Aquaculture and
water quality. Baton Rouge : WAS, 1991. 606 p.
Carmouze, J. P. O metabolismo dos ecossistemas aquáticos. São Paulo :
Edgard Blucher, 1994. 254 p.
DELINCE, G. The ecology of the fish pond
ecosystem with special reference to Africa. Dordrecht: Kluwer Academic
Publishers, 1992. 230 p.
ESTEVES, F. A, Fundamentos de limnologia. Rio de Janeiro : Interciência/FINEP,
1988. 575 p.
GOLTERMAN, H. L., CLYMO, R, S. Methods for
chemical analysis of freshwater. Glasgow : Blackwell Scientific, 1978. 213 p.
(IBP Handbook, 8).
BAUMGARTEN, M. G. Z.; ROCHA, J. M. B.; NIENCHESKI, L. F. H. Manual de
análises em oceanografia química. Rio Grande: FURG, 1996. 132 p.
PARANHOS, R.. Alguns métodos para análise da água. Rio de Janeiro: UFRJ,
1996. 200 p.
SIPAÚBA-TAVARES, L. H. Limnologia aplicada à aqüicultura-Jaboticabal:
FUNEP, 1994, 72p. (Boletim técnico n° l).
Comentários
Postar um comentário
Seu comentário é importante!