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CONTROLE DE PATOLOGIAS E CUIDADOS NO TRANSPORTE DE PEIXES

Grande mortalidade de Tambacus em viveiro na região de São Carlos - SP, infestados por Ichthyophthirius multifiliis e Tricodinas - o comportamento dos peixes era de se agrupar e ficar na superfície para se aquecer, com isto acabavam sendo queimados pela radiação ultravioleta abrindo portas para infecções bacterianas e fúngicas. Foto: Mauro Caetano Filho - Ano: 1998.


                                              

Principais doenças que afetam os peixes no ambiente de criação

Doenças onde os agentes causadores são os microrganismos denominados protozoários.
Este grupo causa a maior parte das perdas de peixes e em todas as fases de criação, mas principalmente na fase inicial. Infestam de ovos a peixe pronto para o abate. Os protozoários são parasitas ou podem ser comensais, que se tornam patogênicos, quando ocorre um desequilíbrio no ambiente de criação: como, alteração brusca de temperatura para + ou para -, baixa concentração de oxigênio dissolvido na água, grande quantidade de matéria orgânica, baixas concentrações de cálcio e outros íons, elevada de concentração de amônia e nitrito. A quantidade de peixes estocados também é importante para a manutenção do equilíbrio ambiental e prevenção das enfermidades. Assim como um bom manejo nutricional e alimentar. Estas considerações são aplicadas a todos os tipos de patogenias que acometem os peixes.
Caracterização de um protozoário:
Muitos protozoários apresentam orgânulos especializados em determinadas funções, daí serem funcionalmente, semelhantes aos órgãos. Suas células, no entanto, podem ser consideradas “pouco especializadas”, já que realizam sozinhas, todas as funções vitais dos organismos mais complexos, como locomoção, obtenção do alimento, digestão, excreção, reprodução. Nos seres pluricelulares, há divisão de trabalho e as células tornaram-se muito especializadas, podendo até perder certas capacidades como digestão, reprodução e locomoção.  São seres unicelulares, eucariontes, com organelas adaptadas ao parasitismo, membrana lipoprotéica para limitar as trocas (permeabilidade), que pode ser fina ou grossa, uninucleados, sendo que o período que precede a divisão pode ter vários núcleos, presença de organelas estáticas, como a membrana cística, e de organelas dinâmicas, como flagelo e cílios. A célula do protozoário tem uma membrana simples ou reforçada por capas externas proteicas ou, ainda, por carapaças minerais, como certas amebas (tecamebas) e foraminíferos. Há estruturas de sustentação, como raios de sulfato de estrôncio, carapaças calcárias ou eixos proteicos internos, os axóstilos, como em muitos flagelados. O citoplasma está diferenciado em duas zonas, uma externa, hialina, o ectoplasma, e outra interna, granular, o endoplasma. Nesta, existem vacúolos digestivos e inclusões. Informações extraídas de Ahid, S.M.M., 2009, Apostila Didática em Protozoologia Veterinária. ahid@ufersa.edu.br.

1.       GêneroTricodina:
São protozoários ciliados que possuem dentro corpo circular um disco adesivo, rodeados por uma coroa com de dentículos. Através de raspado a fresco, da superfície corporal, brânquias, nadadeiras e narina, ao microscópio pode-se verificar o movimento circular dos dentículos. Os tricodinas proliferam em ambientes com excesso de matéria orgânica.

                                                   Tricodina.

Sinais clínicos
Os sinais mais comuns são grande quantidade de muco sobre o corpo e brânquias; sinais de asfixia por danos as brânquias, os peixes ficam próximos à entrada de água, natação errática e na superfície ou parados próximos às margens do viveiro ou tanque.

Patogenia


Hemorragias e desintegração do epitélio, hiperplasia das células das brânquias e em geral. As lesões provocadas abrem portas de entradas para infecções por fungos e bactérias. A infestação por Tricodinas, na maioria das está associada a outros parasitas ou patógenos.
  
2.    Gênero Ichthyophthirius multifiliis:
Protozoário arredondado e ocasionalmente ovalado, ciliado com ± 1,0 mm de tamanho. Na forma adulta denominada Trofonte apresenta um núcleo central em forma de ferradura. Parasita os tecidos do corpo e brânquias, quando atinge a maturidade sai do peixe e se se aloja no fundo do viveiro sobre o substrato. Esta forma chamada de tomonte, que irá sofrer divisões binárias gerando tomitos, que por sua vez se transformarão nas formas infectantes denominadas terontes, que precisa encontrar um hospedeiro em poucas horas ou caso contrário morrerão, mas este tem condições também de completar o ciclo no corpo do peixe.




                          Forma adulta ou teronte, macronúcleo em forma de ferradura.

Sinais clínicos
Para a ictiotiriose, se aplicam todos os sinais da tricodiníase, além da presença de pontos brancos sobre a as escamas, nadadeiras, opérculo, boca e brânquias.
Alta mortalidade de Astyanax alptiparanae (Lambari) causada por Ichthyophthirius, na região de Londrina - PR - Foto: Mauro Caetano Filho
Matrinxã (Brycon cephalus) por Ichthyophthirius em Tamarana - PR, onde a região é muito fria pra as espécies amazônicas. Foto: Mauro Caetano Filho

3. Piscinoodinium é um dinoflagelado que causa a "doença da poeira dourada", o corpo do peixe fica acizentado ou amarelado e ocorre grande mortalidade, como veremos abaixo. Os cuidados na hora da identificação ao m.o. é não confundi-los com o  Ichthyophthirius. O núcleo do Piscinoodinium e circular e não em forma de ferradura.




 Piscinoodinium (Oodinium) em aumento de 100x ao m.o., causou mortalidade de 6.000 quilos de catfish Ictalurus punctatus. Foto: Mauro Caetano filho.


Grande quantidade de peixes mortos e ao fundo os urubus prontos para a limpeza. 
                                                   Foto: Mauro Caetano Filho.
Mortalidade de catfish - Foto: Mauro Caetano Filho
Saprolegniose:
Patologia causada pelo fungo Saprolegnia, que pode ser identificado pelo crescimento do micélio branco ou cinza claro com aspecto de algodão. A infecção pode ocorrer em ovos, larvas, alevinos e peixes adultos. A doença se manifesta inicialmente com a despigmentação na pele dos peixes, seguida da multiplicação e elongação das hifas (filamentos) formando os típicos "tufos de algodão".
Sinais clínicos:
Lesões corporais como, necroses, úlceras e furúnculos; manchas despigmentadas pela pele; áreas necrosadas nas brânquias e nadadeiras desfiadas ou necrosadas (erosão ou podridão).


Tilápias com lesões e nadadeiras desfiadas e com as hifas do Saprolegnia



Tilápia com a infecção fúngica


Alterações comportamentais: Natação vagarosa ou fica parado (letargia), perda do apetite e ficar boqueando na entrada da água ou na superfície (sintomas de asfixia). 
Causas:
Nutrição inadequada, manejo com baixas temperaturas, baixa qualidade de água, estresse e injúrias físicas propiciam a infestação. Transporte e manejo (de espécies tropicais como as tilápias, pacus, tambaquis e outras espécies), com baixas temperaturas no inverno e início de primavera podem favorecer as infestações.
Controle:
Retirar os peixes mortos, e manter o manejo nutricional requerido pela espécie, estocagem ideal; não manusear os peixes quando as temperaturas estiverem baixas para as espécies utilizadas. O sistema imunológico da maioria dos peixes citados acima, não funciona em temperaturas abaixo de 18 graus.
Exemplo: Tanque rede com alta mortalidade após manejo na primavera
As mortes foram causadas principalmente por fungo e pelas bactérias oportunistas.



Na piscicultura onde ocorreram estas mortalidades as variáveis limnológicas estavam alteradas, a concentração da alcalinidade total estava com 11 mg/L, o pH estava em 5,5, amônia e nitrito elevados e o oxigênio estava abaixo de 3 mg/L. A agua passava de viveiro em viveiro, contaminando os peixes e todos os viveiros apresentavam grande mortalidade de peixes.

O controle dos parasitas depois de se tornarem uma patologia não é simples, demanda atenção às condições de criação que os peixes são submetidos, como: água com boa qualidade, desinfecção dos ambientes de criação e vazio sanitário durante uma semana (pelo menos). O manejo alimentar influencia na resistência dos peixes frente ao parasito; peixes mal nutridos são susceptíveis a infestação parasitária. A quantidade e tamanho dos peixes estocados devem respeitar a capacidade de suporte, as formas jovens são mais acometidas pelo icthyus ou outros parasitas. Cerca de 80 a 90% dos problemas sanitários são resolvidos com o controle das variáveis ambientais e manejo adequado.

PROCEDIMENTOS PARA PREVENÇÃO E CONTROLE DAS PATOLOGIAS
  
Cuidados importantes:
Aplicar a depuração e jejum antes de manejos e transporte:
·       ALEVINOS: 24 HORAS
·       PEIXES GRANDES: 48 HORAS
·       PEIXES CARNÍVOROS: 48 HORAS
·       Os períodos acima são suficientemente adequados para esvaziar o trato digestivo dos peixes; quando os peixes são carregados diretamente dos viveiros recomenda-se suspender a alimentação 48 horas antes do embarque.

·    USO DE INSUMOS:
SAL (NaCl):
·       03 a 08 g/litro na caixa de transporte e nas embalagens plásticas de alevinos utilizar 80g em 10 de água;
·       03 a 08 kg para 1000 litros de água.

Mecanismo de ação do sal: Preventivo e compensador evitando a manifestação do estresse, pela queda de cloreto no plasma. Melhora a sobrevivência dos peixes durante e após o transporte, facilita a manutenção do equilíbrio osmorregulatório, deixando a concentração de sais na água mais próxima da concentração de sais no sangue dos peixes, assim como aumenta a produção de muco nas brânquias, o que ajuda reduzir as perdas de sais do sangue para a água. O sal aumenta a produção de muco sobre o corpo, recobrindo os ferimentos e reduzindo os riscos de infecções secundárias por bactérias e fungos. A presença do íon sódio (Na+) na água favorece o mecanismo de ação de excreção de amônia do sangue para a água.


Calagem é a aplicação de cal (cal virgem) no viveiro, com a finalidade de correção do pH do solo ou da água e desinfecção do viveiro. A aplicação de cal (CaO) pode ser feita de acordo com a seguinte tabela, por hectare de viveiro, valor de pH e natureza do solo.

Quantidade de cal (CaO) em t/ha
pH do solo
solo argiloso
solo pouco argiloso
solo arenoso
5,5 a 5,9
3,0
1,8
1,0
6,0 a 6,4
2,0
1,0
0,5
6,5 a 6,9
1,0
0,6
0,2
7,0 a 7,5
0,5
0,3
0,1
  
  "PREVENÇÃO SEMPRE É O MELHOR REMÉDIO"
  

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