EXPERIÊNCIAS REALIZADAS NA EPUEL
Espécies Nativas
No Brasil existem muitas espécies de peixes
de água doce, mas poucas podem ser exploradas, devido à falta de conhecimentos
biológicos básicos importantes para a criação (por exemplo, sobre alimentação,
crescimento, propagação e adaptação ao confinamento). A seguir são relatados os
resultados obtidos com algumas espécies nativas em experiências realizadas na Estação
de Piscicultura da Universidade Estadual de Londrina (EPUEL).
1. Schizodon
intermedius Garavello & Britski, 1991
(piava ou ximboré)
De acordo com Garavello & Britski
(1991), há indicações de que a piava seja endêmica da bacia Paraná-Paraguai,
estando seu limite de distribuição entre Guaíra e a confluência dos rios Paraná
e Paraguai. Bennemann et al. (1995), em um trabalho desenvolvido na bacia do
Rio Tibagi, demonstraram que essa espécie é muito frequente e abundante nas
localidades onde este rio apresenta
grande abundância de vegetação marginal de pequeno porte e macrófitas
aquáticas, ambiente que é comum nas áreas de influência da represa Capivara,
construída no rio Paranapanema. Nessa região, a piava é muito importante para
as pescas amadora e profissional.
O regime alimentar dessa espécie no
ambiente natural, é do tipo herbívoro pastador, e suas fontes alimentares
básicas são algas filamentosas, raízes, folhas, frutos e sementes. Por
situar-se no elo intermediário da cadeia trófica, é de grande importância na
manutenção do equilíbrio do ciclo biológico dos ambientes que habita (Yabe
& Bennemann, 1991). Caetano Filho & Leonhardt (1994), analisando as
relações entre peso e o comprimento desta espécie em policultivo semi-intensivo
utilizando adubação orgânica e ração contendo 28% de proteína bruta (PB), em
viveiro de terra onde foram estocados, além de alevinos de piava, carpa
hungara, curimba e pacu: na densidade inicial de 1,29 (tratamento A) e 0,98
peixes/m2 (tratamento A), obtiveram para a piava a sobrevivência de
86,7 e 97,1%. O fator
de condição médio dos tratamentos A e B foram 0,00631 e 0,00576 (março a
outubro de 1993) e a relação peso X comprimento θ=3,24 e 3,27,
respectivamente. Se o valor desta relação for igual a 3,0 indica um crescimento
isométrico (ganhou peso e comprimento proporcional), um valor menor que 3,0 o é
alométrico e tornou-se mais pesado devido ao incremento em peso, e se este for
maior que 3,0 demonstra que o peixe tornou-se mais leve, por causa do seu
incremento em comprimento.
De acordo com os resultados obtidos nesse sistema de criação, a piava não apresentou crescimento que a credencie como espécie promissora para a piscicultura comercial, porém seriam necessários mais testes para validar esta conclusão.
De acordo com os resultados obtidos nesse sistema de criação, a piava não apresentou crescimento que a credencie como espécie promissora para a piscicultura comercial, porém seriam necessários mais testes para validar esta conclusão.
2. Leporinus elongatus,
Valenciennes, 1849
A piapara é um peixe de piracema, com
migrações reprodutivas e migrações tróficas que, após a desova, volta rodando
pelo rio secundário até a sua foz e depois retorna ao rio principal. Tem ampla
distribuição geográfica, habitando rios como Mogi-Guaçu (SP) e São Francisco
(MG e BA) e a bacia do rio Paraguai. Apresenta corpo arredondado, relativamente
alto, boca terminal em posição antero-inferior; é onívora e sua dieta alimentar
consiste de vegetais, insetos (adultos e larvas), crustáceos, moluscos e
plâncton. No ambiente natural atinge mais de 40 cm de comprimento e peso acima
de 5 kg. Sua carne é de sabor agradável, sendo muito apreciada pelos pescadores
e consumidores em geral. É uma espécie que atinge alto valor comercial.
Atualmente existem poucos dados de criação
da piapara e poucos estudos de monocultivos, policultivos ou cultivos
associados com outras espécies. A Epuel realizou um experimento de policultivo
com o pacu em duas densidades de estocagem, utilizando ração peletizada com 26%
de PB (Frossard et al., 2000). As diferentes densidades não afetaram o
crescimento dos peixes, embora o crescimento da piapara tenha sido influenciado
negativamente pela presença do pacu. O peso final alcançado foi 902 g e 870 g
para o pacu e 139 g e 162 g para a piapara, para a maior e para a menor densidade,
respectivamente. Na menor densidade a produtividade foi de 0,5 kg/m2;
em maior densidade a produtividade, de 0,7/kg m2. Concluiu-se, desse
experimento, que o cultivo dessas espécies em um mesmo ambiente, não apresenta
bons resultados e além disto a piapara é uma espécie muito exigente em relação
a qualidade da água e espaço no ambiente de criação.
3. Leporinus
macrocephalus Garavello & Britski, 1988
(piavuçu, piauçu e piau)
O piavuçu se distribui por vários rios da
bacia do rio Paraguai e tem grande importância econômica para a pesca na região
do pantanal mato-grossense. Segundo a descrição feita por Garavello &
Britski (1988), é uma espécie de porte grande, atingindo comprimento padrão de
até 50 cm. O corpo é alto e comprimido, com o comprimento padrão sendo cerca de
3 a 3,5 vezes a sua altura; a cabeça também é alta, a boca é terminal e muito larga.
O porte grande, o corpo alto e a cabeça curta são características morfológicas
importantes para a criação em piscicultura.
Essa espécie já é cultivada em várias
regiões do país, principalmente no norte do Paraná, com os exemplares atingindo
cerca de 800 a 900 g por ano. Os estudos sobre sua criação são recentes,
havendo poucas informações a respeito da espécie, o que a torna relevante como
objeto de pesquisa. Em experimento de monocultivo realizado, utilizando ração extrusada
contendo 28% de PB (Leonhardt & Caetano Filho, em prep.), obteve-se a
conversão alimentar (1,8:1), peso médio final dos peixes (870 g) dentro do esperado
para o Paraná e produtividade de 0,7 kg/m2. Os estudos em andamento
na Epuel pretendem desenvolver estratégias de criação mais apropriada, além de
buscar a melhoria dos aspectos da reprodução induzida, larvicultura e alevinagem
desta espécie.
Bibliografia consultada: Livro A Bacia do
Rio Tibagi – Capítulo 30: Piscicultura
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